14/08/2020

NA CIDADE FANTASMA QUE É O MEU PENSAMENTO

 


 


O meu pensamento é uma cidade fantasma,

Ruas suspensas, submissas ao tempo, ruínas de templos
E os gemidos dentro das casas, (acaso possuíssem alma)
Seriam ténues, não me prendessem tatuagens nos braços
Nas frases austeras que um esquecido astrólogo segreda

Ao meu pensamento.

É uma cicatriz que dói, aberta
Quando se remove com a unha, para não ficar dedada.
O manto da invisibilidade é a sua cómoda coberta,
A manta de lenços e papel que absorve qual mata-borrão

(Fico sem saber se é natureza murcha ou decalque da morte)
E depois me atira ao acaso, nessa cidade de casas sem chão,
Fixas no ar, vazias de tudo, como absurdas obras de arte.
O inesperado e talentoso verso pode nem surgir nele,

Como por encanto, mas por enquanto, vai alternando
Entre ouvir-me e surpreender-se a si próprio, do seu pensar
Estranho. Às vezes tenho pena de quem não imagina, tendo
Eu, nas mudanças de rumo deste pensar, a visão máxima

De assombro, quando dou por mim no fim, a voar sobre campos
Que não sabia existir no inicio e a cidade se alastra e o tema
É o poema e ele se transforma, na casa dos meus sonhos,
(Na cidade fantasma que é o meu pensamento)



HÁ UMA TARDE

 


 

Há uma tarde fechada por dentro
caiada de sonhos e cansaços...

Um quase silêncio vestido de Fado
que ultrapassa a solidão de quem
o canta.

Um quase poema feito de palavras
que não há mas que a Alma sente
e vê.

Um suspiro de marujo num barco
em alto mar ao sabor das ondas
indiscretas.

Uma vontade de ir mais além,
Para lá da vida, para lá da morte,
Numa busca incessante.

Que triste tarde fechada por dentro
caiada de sonhos e cansaços...

Ricardo Maria Louro
Na casa do Outeiro
em Monsaraz



TNC




O SILÊNCIO DA MINHA MENTE REFLETIVA